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BATE-PAPO PEF 2023 Por André Teixeira

BATE-PAPO COM SILVESTRE MACHADO

Fotógrafo premiado – inclusive na Convocatória do Paraty em Foco, em 2016 –, com atuação em diversos bancos de imagens e fotos publicadas num sem-número de revistas e campanhas publicitárias, Silvestre Machado, um dos convidados da 19ª. edição do PEF, fala sobre sua trajetória, Inteligência Artificial e outros temas. 

Como surgiu sua relação com a fotografia?

Nem acredito que essa relação já tenha 43 anos. Entre meus 14 e 15 anos, quando chegava cedo no curso de inglês, eu ia para a biblioteca e lia várias revistas, e acabei me concentrando nas de fotografia, como Popular Photography e Modern photography, entre outras. Alguns anos depois, eu e um amigo emprestamos dinheiro a um outro amigo, que, na impossibilidade de nos pagar, nos ofereceu um laboratório fotográfico completo, ampliador, lente, timer, tudo. Melhor o laboratório do que nada...

Fale sobre prêmios, exposições, enfim, um breve resumo de sua trajetória na fotografia.

Desde cedo comecei a seguir os passos do nosso conhecido Roberto Gomes e suas participações em concursos de fotografia. Ganhei vários. Mas foi em 1989/90, quando fui eleito pela Kodak e a Editora Abril o “Jovem fotógrafo do ano”, que realmente comecei a me tornar um fotógrafo mais profissional. Como prêmio, fiz um curso na escola de fotografia da Kodak em Rochester, nos Estados Unidos, e um estágio na revista VEJA no Rio. Em minha visita a Nova York pela Kodak, meu primo Ed,  que trabalhava como designer, ao saber do meu prêmio e ver meus slides, me apresentou para o banco de imagens FOUR by FIVE, que me aceitou como fotógrafo. Assim, comecei minha trajetória no banco de imagens. Nos anos seguintes, preparei novos portfólios, viajei para a Meca dos fotógrafos e me apresentei para vários outros bancos de imagens. Atualmente atuo com a Getty Images, e, no Brasil, com a Opção Brasil Imagens, além de outros dois na Europa. 

Dos prêmios, gostaria de destacar o primeiro lugar no "Revelações do Rio", promovido em 1995 pelo jornal O Globo, com uma viagem às Ilhas Margaridas como prêmio; o “Momentos inesquecíveis”, em 1993, em que ganhei um carro Uno Mille, e a Menção Honrosa e o Segundo Lugar no Nikon Photo Contest Interational em 1987 e 2001.

Tenho inúmeras fotos em revistas e campanhas publicitárias, por conta do meu trabalho com bancos de imagens e concursos, mas gostaria de destacar algumas, como as publicadas na revista francesa Photo, inclusive na capa, as que entraram nos livros da Fundação Conrado Wessel, que eram mais voltados para premiar os fotógrafos publicitários, e as da matéria na revista Fotografe Melhor, em 2016, que falava do meu primeiro lugar na Convocatória do Paraty em Foco daquele ano.

Você trabalha como médico. Qual o lugar da fotografia na sua vida? Quanto tempo se dedica a ela?  

Em 1979, entrei para a faculdade de Medicina e me especializei em pediatria. Desde o início, não me agradava a ideia de ganhar dinheiro com a doença dos outros, em especial de crianças.    Nessa época a fotografia me ajudou muito, assim com ter passado em um concurso para médico da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Com esse emprego, que não me pagava muito inicialmente, tive uma certa estabilidade, e com o trabalho nos bancos de imagens, que realmente me bancavam, pude fazer a minha vida. Fora essa parte econômica, uma complementa a outra, o lado real de vida e o lado mais artístico, que também sempre me motivou.

Pude me dedicar às duas sem maiores problemas, estou sempre com a câmera, muitas das minhas fotos foram feitas quando estava trabalhando, como a vencedora do Paraty em Foco de 2016, que fiz de dentro do carro, na Linha Vermelha.

Passeando pelo seu site, vemos muitas fotos com inserção de elementos, junções de elementos, cores ressaltadas, enfim, manipuladas digitalmente. Ao mesmo tempo, há um belo trabalho sobre fotografia de rua, com imagens, digamos, mais “autênticas”, registros do dia a dia. Como você equilibra seu processo de criação entre duas propostas aparentemente tão distantes?

O meu site representa mais a minha era digital e por isso há muitas fotos com inserções de elementos, junções e cores ressaltadas, mas estas últimas sempre estiveram presentes em minhas imagens. Como meu foco não é o jornalismo, e sim os bancos de imagens, consegui um casamento ideal, quase toda foto que faço pode ser usada em uma campanha publicitária.  O equilíbrio vem em não separar a fotografia em compartimentos, encarar tudo como arte, ter sempre em mente que a fotografia, como a pintura e a música, são apenas formas de expressar meu eu interior. Mesmo em meu trabalho de rua não estou apenas registrando uma realidade, como um repórter fotográfico.

Preto e branco ou cor? Alguma preferência?  

O PB e a cor são indiferentes para mim. Tenho fotos que gosto e já faço pensando em PB, e outras na cor. Por um lado, a fotografia colorida é até mais difícil, está sempre mais ligada ao real e trazê-las para o imaginário é mais difícil. Busco meu estilo não na cor ou no PB, ou nos temas que fotografo, mas sim em algo mais sutil, quero que a foto de uma nuvem ou de uma modelo seja reconhecida com minha só pela concepção.

Neste ano, o Paraty em Foco vai abordar a questão da Inteligência Artificial na fotografia. Você tem acompanhado esse assunto? O que acha das imagens criadas com este sistema?  

Quando surgiu a fotografia, disseram que a pintura iria acabar, mas isso não aconteceu. E nem há competição, pois em termos financeiros uma pintura normalmente vale mais do que uma foto. No caso da fotografia com uso da Inteligência Artificial, não sei se faria muita diferença no processo criativo. A inteligência, por si, não faz um artista, mas pode ser uma boa ferramenta. Seria ótimo, por exemplo, pedir para o computador tirar o fundo de uma foto. Me pouparia tempo e trabalho físico.

O festival também vai tratar da fotografia analógica, que vem recuperando espaço depois da explosão das câmeras digitais. Como vê esse resgate? Que diferenças há entre a foto analógica e a digital?  

Vejo apenas com nostalgia. Tendo trabalhado bastante com as duas, só vejo vantagens na digital. Fotografava com filmes PB e cor (slides), e sempre havia uma apreensão, não pela foto, mas pelo processo envolvido, se a química estava correta, tempo de revelação, alguma diferença na fabricação dos filmes...ver a foto na hora é uma maravilha.

Em termos tecnológicos, a digital é bem melhor. Em termos ecológicos, 100 % melhor, não tem produtos químicos, não precisa lavar a foto por horas gastando água...

Verdade seja dita, a fotografia digital é bem superior à analógica. Meu olhar fotográfico é o mesmo, só que ficou mais fácil, não me preocupo tanto com a foto-metragem como na época dos slides, em que um pequeno erro na exposição condenava a foto, e com o custo e o trabalho de ir ao laboratório e às vezes ver que houve um problema na revelação. 

Vivemos numa época dominada pelas imagens, com bilhões de pessoas pelo mundo com uma câmera na mão, prontas para fotografar e publicar redes sociais. Como se destacar nesse panorama? O que diferencia uma boa foto de um registro banal? 

Creio que esses bilhões de fotógrafos e esse número quase incalculável de fotos venham da facilidade oferecida pelos smartphones, não necessariamente de um maior número de “fotógrafos raiz”. São pessoas que anteriormente também gostariam de registrar determinado momento, mas não tinham a praticidade de hoje. Não estão preocupadas em fazer um "fotão", mas em registrar um momento bacana - ou nem tão bacana assim. Mas entre os realmente fotógrafos, a forma de se destacar é a mesma. Ser criativo, treinar o olhar, tornando visível o que os outros não veem.

Dizer se uma foto é boa ou não é difícil, especialmente quando se está acostumado a participar de concursos.Todas as imagens que envio são boas para mim, mas nem sempre são premiadas. Diria que uma foto é boa quando ela consegue passar uma mensagem para um maior número de pessoa de uma forma equilibrada. Creio que um bom caminho para se tornar um bom fotógrafo é entender que qualquer arte é uma eterna evolução, ouvindo críticas e aceitando-as.

Você costuma participar de festivais de fotografia? Qual a importância deste tipo de evento na formação de novos fotógrafos e de um público consumidor de fotografia?  

Já participei de vários eventos e festivais de fotografia, inclusive o Paraty em Foco de 2016, em que tive uma foto escolhida como vencedora. Esses encontros são importantes não só para os fotógrafos, mas para todo o universo da fotografia. É uma oportunidade de contatos, de troca de conhecimentos, de desenvolver bases fortes para uma fotografia com mais arte e menos Inteligência – Artificial, é claro...

PFinalmente, qual sua expectativa para a edição 2023 do Paraty em Foco?  

São as melhores possíveis, em especial por ser a primeira realmente depois da pandemia e em particular por estar participando do outro lado, como convidado. Não estarei levando somente algumas de minhas imagens, mas toda experiência de fotógrafo, de uma forma mais abrangente.

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