Walter Firmo (1935)  incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, mesmo encenadas.

 

Linguagem própria que surge, já no início de sua trajetória artística e profissional, da necessidade de confrontar e questionar os cânones e limites da fotografia documental e do foto-jornalismo, e, num sentido mais amplo, da própria fotografia enquanto apenas verossimilhança ou mera mimese do real, incorporando em seu trabalho novos procedimentos criativos e conceituais de valoração e exaltação do objeto e tema de interesse maior em sua obra: a representação e visibilização da população negra do país.

 

Experimentou e estabeleceu, já a partir do início dos anos 1960, um diálogo direto e inovador com nossa população, paisagem e luz, - transatlânticas e tropicais, rurais e periféricas, sensuais e extasiantes. Sua fotografia foi engendrada ao longo dos anos num verdadeiro estúdio a céu aberto, tendo como temática central não simplesmente a cor, - mas sim a sua negra cor -, aquela voltada para a representação e exaltação da população negra do país, tanto na potência cromática plena de suas imagens coloridas, como também na ausência absoluta da cor, em suas poderosas imagens em preto e branco, uma prática autoral, criativa e engajada voltada para a visibilização de todos aqueles que descendem da violenta diáspora africana que marca e conforma inescapavelmente o passado, presente e futuro deste país.

 

Negritude e encantamentos, narrativas e experimentações são assim os elementos estruturantes das múltiplas poéticas que conferem sentido e lugar à obra de Walter Firmo.

 

Carioca por nascimento, amazonense por origem, baiano por devoção, negro e brasileiro por definição e convicção, Walter Firmo construiu uma densa e essencial obra ao longo de uma trajetória de setenta anos ininterruptos na fotografia brasileira e internacional. Criou, ao longo deste percurso, uma sólida presença na imprensa e na fotografia autoral, que resultou em um vasto acervo de mais de 140 mil imagens, hoje preservado no Instituto Moreira Salles.

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Sergio Burgi

Coordenador de Fotografia

Instituto Moreira Salles

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https://ims.com.br/exposicao/walter-firmo-no-verbo-do-silencio-a-sintese-do-grito_ims-paulista/